Em 1980, um voo da TAP, o 131, que seguia de Lisboa para Faro, foi desviado para Madri por um sequestrador improvável: um adolescente de 16 anos armado. O caso, ocorrido em um tempo onde a segurança aeroportuária era consideravelmente menos rigorosa, transformou-se em uma história de resiliência e amizade.
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Naquele dia, a bordo do Boeing 727, estavam 83 passageiros e sete tripulantes, incluindo o copiloto José Correia Guedes. Logo após a decolagem, o jovem, que havia comprado uma passagem na primeira classe, invadiu a cabine de comando, portando uma pistola e exigindo o desvio da rota.
O nervosismo do sequestrador amador, contrastando com a experiência de um profissional, aumentou a tensão. Guedes e o comandante, Coutinho Ramos, inseriram discretamente um código de sequestro no transponder, enquanto tentavam acalmar o adolescente. Apesar de alegarem a falta de combustível suficiente para chegar a Madri, o sequestrador já havia se precavido, sabendo que as aeronaves sempre decolam com uma reserva extra.
A situação evoluiu para uma atmosfera incomum, onde uma “síndrome de Estocolmo” começou a se desenvolver entre o copiloto e o sequestrador. Guedes, responsável por recalcular a rota e o combustível, testemunhou o adolescente pedir desculpas pelo transtorno.
Em Madri, o sequestrador exigiu US$ 20 milhões e um salvo-conduto para a Suíça, mas, após horas de negociação e com o avião cercado pela polícia, liberou mulheres e crianças. Guedes, atuando como conselheiro, argumentou sobre a inviabilidade das exigências. O momento culminou com o adolescente chorando, de arma em punho, levando o copiloto às lágrimas também.
Um acordo foi firmado: o jovem entregaria as balas da arma, e Guedes testemunharia a favor dele no tribunal. Após liberar os passageiros restantes, o avião retornou a Lisboa, onde o sequestrador foi detido.
Guedes cumpriu sua promessa, ligando para a mãe do sequestrador e, posteriormente, entregando as balas à polícia. No julgamento, o copiloto testemunhou em defesa do jovem, que acabou recebendo uma pena suspensa.
Anos depois, em 2017, o sequestrador reapareceu no lançamento do livro de Guedes, reacendendo uma amizade que perdura até hoje. Em 2023, convidou Guedes e sua esposa para sua festa de 60 anos. O copiloto, agora aposentado, mantém a promessa de não revelar o nome do “Piratinha do Ar”, como ficou conhecido na época.