No Quênia, um número crescente de mulheres está desafiando as normas sociais tradicionais e optando pela esterilização, garantindo o controle sobre seus corpos e futuros. A laqueadura, procedimento que impede a gravidez, tem se tornado uma escolha para mulheres que não desejam ter filhos, contrariando expectativas culturais profundamente enraizadas. Essa tendência reflete uma crescente autonomia feminina e o desejo de moldar suas vidas de acordo com suas próprias escolhas.
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Nelly Naisula Sironka, de 28 anos, é uma dessas mulheres. Desde jovem, ela nunca quis ter filhos e, no ano passado, realizou a laqueadura. “Foi libertador”, afirma Sironka, especialista em desenvolvimento organizacional, à BBC. A decisão garantiu que seu futuro é agora inteiramente seu.
Dados do Ministério da Saúde do Quênia revelam que cerca de 16 mil mulheres se submeteram à laqueadura entre 2020 e 2023. A ginecologista Nelly Bosire observa uma mudança no perfil das mulheres que buscam a esterilização. “Tradicionalmente, as candidatas mais comuns à laqueadura eram mulheres que já tinham vários filhos”, explica Bosire. “Mas, agora, estamos vendo mais mulheres com menos filhos optando pelo procedimento.”
A influência de leituras feministas, como as obras de Toni Morrison, Angela Davis e Bell Hooks, foi crucial para Sironka. “Interagi com histórias de vida de mulheres que não tinham filhos”, conta. “Isso me fez perceber que uma vida como essa era possível.” Ela também cita a preocupação com a erosão dos direitos das mulheres globalmente, como a revogação do direito ao aborto nos EUA, como um fator em sua decisão.
Muthoni Gitau, uma YouTuber e designer de interiores, também compartilhou sua experiência com a laqueadura. Ela relata ter enfrentado resistência de um médico quando procurou o procedimento aos 23 anos. “Ele me perguntou: ‘E se eu conhecesse alguém que queira ter filhos?'”, relembra Gitau. A recusa, segundo ela, foi “de partir o coração”, mas não a impediu de buscar o procedimento em outro lugar anos depois.
Bosire ressalta a necessidade de mudar a mentalidade dos médicos para que valorizem o direito do paciente de tomar decisões sobre sua saúde reprodutiva. Kireki Omanwa, outro ginecologista queniano, admite que a questão é motivo de debate no meio médico. Apesar dos desafios, mulheres como Sironka e Gitau celebram sua autonomia e a liberdade de escolher seus próprios caminhos, desafiando as expectativas tradicionais e inspirando outras a fazerem o mesmo.
Fonte: http://g1.globo.com