Após breve contato na ONU, articulações prosseguem em meio a divergências internas no governo americano e tensões comerciais
Após um breve contato na ONU, a possibilidade de um encontro entre os presidentes do Brasil e dos EUA enfrenta desafios em meio a tensões comerciais.
Ainda não há data definida para que Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump voltem a conversar, mais de dez dias depois de o presidente dos Estados Unidos mencionar a possibilidade de um encontro. Em 23 de setembro, Trump comentou ter interagido brevemente com Lula nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
O americano expressou ter tido uma “química excelente” com Lula, com quem trocou um abraço e combinou um encontro. O Itamaraty minimiza a demora, explicando que há um intervalo natural para conciliar as agendas dos dois presidentes, e que a negociação está em curso.
Todas as possibilidades estão sendo consideradas, segundo diplomatas brasileiros e americanos. Os dois líderes podem conversar por telefone ou videoconferência antes de se reunirem pessoalmente. Lula não descarta ir a Washington, mas o encontro também pode ocorrer em um terceiro país, ou durante a cúpula da Asean, a partir de 26 de outubro, em Kuala Lumpur.
Apesar da movimentação de autoridades e empresários, e de já se cogitar um breve contato entre Trump e Lula nos bastidores da ONU, o aceno do americano durante seu discurso ocorreu de improviso e gerou surpresa. A fala oficial, preparada com antecedência, incluiu críticas duras ao Brasil.
Há meses, o governo americano vem impondo tarifas comerciais e outras medidas contra o Brasil em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. O deputado federal Eduardo Bolsonaro tem se empenhado em articulações junto à Casa Branca por sanções ao Brasil, tentando pressionar pela absolvição e anistia do pai.
As sanções mais recentes foram anunciadas pelos EUA apenas um dia antes do aceno de Trump na ONU: Viviane Barci de Moraes, mulher do ministro do STF Alexandre de Moraes, e a empresa LEX – Instituto de Estudos Jurídicos, foram submetidas à Lei Magnitsky. Desde o início, Trump classificou o julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas”.
Autoridades como o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado, Marco Rubio, mantiveram contatos desde julho, incluindo uma reunião presencial em Washington. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) enviou uma comitiva de mais de 120 empresários a Washington para tentar abrir canais de diálogo.
O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, conversou por videoconferência com o representante de comércio dos EUA, Jamieson Greer, em setembro. O USTR investiga o Brasil por supostas práticas desleais de comércio. Ainda naquele mês, Alckmin participou de reunião virtual com o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick.
No entanto, diplomatas afirmam que não há pressa e lembram que a preparação para reuniões do tipo pode levar vários dias. Além disso, dizem, é preciso cautela para garantir que o encontro seja benéfico ao Brasil, em vez de deixar a situação ainda pior.
